sexta-feira, agosto 17, 2012
Tchau Memória, Tchau!
Lá estava eu, trabalhando como de costume. Tentava dar aula aos meus alunos, sem o costumeiro silêncio e atenção de sempre , aliás, coisa rara nos dias de hoje. Não que estes estivessem salientes, muito pelo contrário! Estavam tentando a todo custo ouvir minhas palavras e o conteúdo que estávamos tratando , em meio a uma algazarra de tratores, pás e picaretas que insistiam em se intrometer, em meio ao discurso sobre tema ora tratado.
No entanto, o que mais irritava e desconcentrava, não era o som cacofônico vindo da obra , antes a obra em si, que remexia com a calçada centenária logo em frente.
Pensei comigo como pode, desmontarem assim o passado , reclamei e esbocei comentários irritados e apaixonados à alguns colegas sobre a falta de respeito a História, pois, a tal obra se tratava de um projeto de “modernização” (ops) de revitalização da rua.
Em meio ao colóquio que fazia acerca da obra,um deles trouxe-me um jornal que explicava “tudo” sobre a obra em questão , comentava ainda, que o piso seria removido e depois recolocado sobre uma nova base de concreto vermelho ao qual uma parte do calçamento CENTENÁRIO deveria dar lugar.
O lugar ficaria lindíssimo! Assim os paralelepípedos que configuravam uma cenário nostálgico á parte, eram retirados e jogados por um trator sobre a caçamba do caminhão , indo-se sabe lá onde , assim como a memória do lugar.
Os trabalhadores concluíam seu trabalho em um pleonasmo vicioso , assim como a ingerência e a falta de sensibilidade, cumpriram o seu .
Divagação Noturna
Faz um bom tempo que não tenho mais escrito para o meu blog. Vez por outra surge aquele desejo, logo suprimido, de dizer algo que possa ser inteligível. Mas, para quem?
Escrever em meu blog, me parece cada vez mais, como gritar em direção ao nada. Com o agravante da falta de eco!
Por outro lado as contingências da vida atribulada de homem comum, parecem me absorver por completo. Vou apenas rolando minha pedra dia após dia.
Não com tristeza! Mas, com a constatação da vida que segue. A coisa é mesmo assim.
No Caminho, com Maiakóvski
No Caminho, com Maiakóvski
Eduardo Alves da Costa
Assim como a criança
humildemente afaga
a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakóvski.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.
Lendo teus versos,
aprendi a ter coragem.
Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
Nos dias que correm
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz;
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de me quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas manhã,
diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.
Olho ao redor
e o que vejo
e acabo por repetir
são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne aparecer no balcão.
Mas eu sei,
porque não estou amedrontado
a ponto de cegar, que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais.
Vamos ao campo
e não os vemos ao nosso lado,
no plantio.
Mas ao tempo da colheita
lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.
E por temor eu me calo,
por temor aceito a condição
de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,
esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita - MENTIRA!